sexta-feira, 15 de julho de 2011

Motivação!

O casamento e a relação*


Léo Rosa

*Recomendo a leitura deste bem escrito artigo.
LÉO ROSA DE ANDRADE**

Já há casais que fazem festa, com música e felicidade, para comemorar separação. Reúnem família, os melhores amigos, os filhos, se filhos houver, e festejam o fim da convivência. Existe quem se espante, mas é apenas um ritual que o nosso tempo pede. Afinal, pouca gente ainda se dispõe a aceitar que a convivência sobreviva ao amor, e o amor só tem prazo de validade enquanto dura. Como conviver por obrigação é morar no inferno, as pessoas sensatas saem disso e vão buscar felicidade noutras partes, formando outros pares e fugindo das dores, com outros amores.

Pode parecer estranho, mas uma convivência não tem que terminar em tragédia, culpas lançadas, desejos de desgraça, rogação de pragas e outras baixarias. Um bom amor pode acabar em poesia, com as partes mantendo consideração entre si, sentindo saudade dos momentos felizes, dos sonhos sonhados juntos. Por isso, algumas pessoas, ao dissolverem seus vínculos de existência em comum, festejam o que houve de bom, o que se proporcionaram de carinho, de dedicação, e se despedem com a certeza de que valeu a pena. Julgam que aquela vida merece uma festa – e festejam.


Há quem diga que, hoje em dia, os amores são curtos. Creio que amores longos sempre foram raros. O que mudou foram as mulheres, ou o tanto de violência sobre as mulheres. Nos casamentos antigos, a mulher devia dissolver a personalidade na vontade do marido. Como dizia a tradição, eles eram um só. E acabavam sendo mesmo, o “um só” era o marido, a mulher era ninguém. Atualmente, um casamento pede pelo menos três partes: a mulher, o marido e a relação. Os três têm vida própria e pedem espaço na convivência.

Muitas vidas amorosas não dão certo, porque nem mesmo as duas primeiras partes se respeitam. Acasalam-se, gostando-se como são, incluindo, claro, o modo de ser próprio de cada um, e logo, logo querem transformações, investem em despersonalização, em posse, em invasão de intimidade. Casam-se sem cordas e depois querem rédeas curtas. Mas isso já é assunto velho. O que parece que há de novo é a terceira pessoa, que tem vida própria e que se chama relação.

Das três, a relação é a parte menos visível, mas a mais exigente. É o trânsito não só entre as parte, mas, também, de um pelo outro. Nela, cada um se mantém por inteiro, com sua individualidade respeitada, mas convida o outro à sua vida; ninguém deve satisfação, mas conta-se, e não cabe julgamento. Não há obrigações, mas a intimidade permite conversas abertas; há honestidade de si, mas não mudança de si.

A relação é o reconhecimento de que o meu par é outra pessoa, e sempre será, mas que eu conto com ela; ela não me pertence, nem eu sou dela, mas estamos juntos, só porque gostamos de estar juntos. A relação é uma condição na qual cada parte tem certeza de que é querida, porque conta com que a outra diga, se tudo acabar, que tudo acabou. E se faz uma festa, em homenagem ao tão bom que se foi e ao ainda bom que ficou.

O aborto, o bem e o mal*
Formas da humanidade*

**Léo Rosa – Doutor em Direito pela UFSC. Psicólogo e Jornalista. Professor da Unisul.
Site: www.leorosa.com.br

Nenhum comentário: